04/11/2024 09:44 - Fonte: Isabella Serena - Assessora de Comunicação Arpen/PR
Francis Hodder, nascido em 1798 em Cork, na Irlanda, veio de uma família rica e influente. Estudou no renomado Eton College, uma instituição frequentada por diversas figuras da nobreza britânica, incluindo, em épocas diferentes, os príncipes William e Harry. Após concluir seus estudos, Francis ingressou na Marinha Britânica. No entanto, um desentendimento com seu superior nas Bermudas, no Atlântico, levou a uma briga, durante a qual Francis acabou matando-o. Provavelmente seria executado em uma corte marcial, mas Hodder conseguiu fugir a tempo, abandonando sua vida militar e se transformando em pirata, sob o nome de guerra de Zulmiro.
Diz a lenda que, desde jovem, Zulmiro já se envolvia em atividades de contrabando, aproveitando-se da fiscalização precária nas inúmeras ilhas brasileiras. Durante suas aventuras, ele conheceu e se aliou a Zarolho e José Sancho. Juntos, cometeram diversos crimes notórios na época, como o saque à Catedral de Lima, no Peru, então um dos maiores centros de riqueza da América do Sul. Após dividir o tesouro entre eles, o trio se separou: Zarolho foi preso e mais tarde fugiu, morrendo na Índia; José Sancho foi capturado e executado; e Zulmiro foi preso no Brasil. No entanto, com a ajuda de um antigo colega de escolar naval, ele conseguiu escapar, sob a condição de abandonar a vida de pirata. Assim, adotou o nome de João Francisco Inglez.
Inglez escolheu a cidade de Curitiba para recomeçar sua vida. Comprou uma propriedade no bairro do Pilarzinho, onde viveu de forma humilde e discreta. Ele teve quatro filhos com uma escrava chamada Rita e viveu até os 90 anos. João Francisco foi sepultado no Cemitério Municipal de Curitiba, e acredita-se que seus descendentes ainda possam ser encontrados na região. Diz-se que o tesouro saqueado da Catedral de Lima foi escondido em uma ilha vulcânica no meio do Oceano Atlântico, a Ilha da Trindade, um conhecido refúgio para piratas.
A história de Zulmiro poderia ter se perdido, não fosse o inglês Edward Young Stammers, que desempenhou um papel crucial para preservá-la. Após ouvir relatos sobre o pirata, Edward decidiu visitá-lo. Já idoso, João Francisco Inglez ainda mantinha traços de sua origem britânica e educação refinada. Em conversas confidenciais, ele revelou a Edward sua verdadeira história, fazendo-o jurar guardar seu segredo até sua morte.
Após a morte de Zulmiro, Edward decidiu buscar o tesouro mencionado. Sob um pseudônimo, ele publicou diversas cartas no Jornal do Brasil em 1896, descrevendo o suposto local onde o tesouro estaria escondido. No entanto, essa busca o colocou em perigo. Pessoas interessadas no tesouro invadiram sua casa no Rio de Janeiro e o assassinaram. Já foram realizadas quatro expedições brasileiras para a Ilha da Trindade em busca do tesouro entre 1910 e 1912, mas até hoje, nada foi encontrado.
No Livro de Registros do cartório do Bacacheri, de 1889, há a comprovação da morte de João Francisco Inglez. Este registro tem sido preservado e estudado por historiadores e pesquisadores locais que há anos reúnem informações sobre o pirata. Marcos Juliano Ofenbock é um dos principais responsáveis por comprovar a existência de Zulmiro, cruzando informações e escrevendo três livros sobre o caso. Curitiba, em reconhecimento a essa história, inaugurou, no final de junho, um parque infantil repleto de referências históricas, localizado no bosque Gutierrez, no bairro Vista Alegre, inclusive com uma placa azul inglesa em homenagem ao pirata, que foi doada pela Sociedade Britânica do Paraná. Na Câmara Municipal de Curitiba, a história do pirata Zulmiro foi tema de dois podcasts gravados com o pesquisador Marcos. Além disso, após 20 anos de pesquisa, Marcos lidera uma nova expedição arqueológica à Ilha da Trindade, no meio do Oceano Atlântico, onde os documentos descobertos indicam que Zulmiro tenha escondido o tesouro. O pesquisador esteve na Ilha da Trindade no final de 2023 a convite da Marinha para fazer levantamentos para o projeto da expedição.
Fonte: Assessoria de Comunicação Arpen/PR