16/09/2025 18:05 - Fonte: Eduardo Carrasco, Assessoria de Comunicação Arpen-Brasil
Conarci 2025 destaca desafios e conquistas do Registro Civil na Amazônia
O último dia do 31º Congresso Nacional do Registro Civil (Conarci 2025) começou com o painel “Registro Civil de Pessoas Naturais: a cidadania que floresce na Amazônia”, realizado neste sábado (14/09). O encontro foi moderado pelo presidente da Arpen-Brasil, Devanir Garcia, e contou com as exposições das registradoras Geiza Elem Souza de Matos, Registradora Civil do Ofício Único de Barcelos-AM e diretora da Associação dos Notários e Registradores do Estado do Amazonas (Anoreg/AM), e Letícia Camargo Carvalho, Registradora Civil do Ofício Único da Comarca de São Gabriel da Cachoeira-AM.
Ao abrir o painel, Devanir destacou o simbolismo de trazer para o centro do congresso a realidade dos cartórios da região amazônica, reconhecendo a dedicação de registradores que atuam em condições adversas. “Essas colegas realizam um trabalho espetacular em locais de difícil acesso, mostrando que, mesmo nos lugares mais inóspitos, o Registro Civil é presença viva. O que veremos aqui é fonte de inspiração e de energia para todos nós”, afirmou.
Em sua apresentação, Geiza fez um relato impactante sobre os desafios encontrados ao assumir o cartório de Barcelos-AM, há cinco anos. Vinda de Manaus, ela contou que pouco conhecia a realidade do interior do estado e se deparou com um cenário de extrema vulnerabilidade social e ausência de políticas públicas integradas.
“Encontrei crianças com fome, idosos sem acesso à cidadania, comunidades inteiras sem registro. Saúde não conversava com a Funai, que não conversava com a assistência social. Ninguém sabia sequer que existia um cartório. Foi um choque de realidade”, relembrou.
Para reverter o quadro, Geiza buscou aproximação com comunidades indígenas e ribeirinhas, criando protocolos de atendimento específicos e respeitando as particularidades culturais de cada etnia. “Não sou eu que digo como eles devem ser atendidos. Eu aprendi a escutar e adaptar o serviço. Coloquei cartazes em línguas indígenas, criei filas específicas, mapeei comunidades. O cartório precisava ser acolhedor e respeitoso com todos”, explicou.
Ela também destacou a importância da logística como desafio cotidiano: “Na Amazônia, o acesso depende do rio, da seca e da cheia. Muitas vezes o cartório precisa se adaptar à natureza para chegar até as pessoas”, completou.
Na sequência, Letícia Camargo Carvalho, registradora de São Gabriel da Cachoeira-AM — município conhecido como a “capital indígena do Brasil”, com mais de 90% da população composta por indígenas e 26 etnias diferentes — relatou como estruturou um cartório inclusivo em uma das regiões mais plurais do país.
“Não foi a população que se adaptou ao cartório. O cartório se adaptou à população. Em São Gabriel, tão rico e diverso, não fazia sentido que a língua e a cultura se tornassem obstáculos para a cidadania”, destacou.
Letícia lembrou do impacto do seu primeiro atendimento no município: “Cumprimentei a pessoa, mas ela não conseguia me entender. Como eu poderia garantir direitos a alguém que não compreendia sequer a minha fala? Foi aí que percebi que a inclusão começava pela língua”, contou.
Hoje, São Gabriel da Cachoeira é oficialmente reconhecido por adotar línguas indígenas como idiomas cooficiais, e o cartório reflete essa realidade em sua prática. O atendimento é feito em mais de 20 línguas, com apoio de colaboradores indígenas que atuam como intérpretes. “O Registro Civil tem alma. Cada ato é uma devolutiva para a sociedade. Se for preciso pegar a barca ou o avião para chegar até uma comunidade, nós vamos. Atendemos até no chão, se for necessário. O importante é garantir a cidadania e o respeito à diversidade”, afirmou Letícia.
O painel emocionou os participantes do Conarci 2025, que puderam conhecer de perto experiências que transformam o Registro Civil em verdadeira política de inclusão social em regiões remotas do Brasil. O presidente Devanir Garcia, emocionado, enfatizou que ouvir as histórias da Amazônia é um convite à reflexão: “Obrigado por mostrarem uma realidade que todos precisam conhecer. Saímos daqui mais fortes, porque o trabalho de vocês toca o coração de todos nós”, concluiu o presidente da Arpen-Brasil.
Fonte: Eduardo Carrasco, Assessoria de Comunicação Arpen-BR